A Educação Física Escolar ontem e hoje

      Ao falar desta disciplina escolar, na cabeça de muitos surgem ou memórias muito boas ou, como no caso da maioria das pessoas, memórias muito frustrantes das vivências que tivemos na escola. Muitos também se referem ao pouco ou nenhum peso na formação escolar relacionada a educação física, considerando-a como uma das disciplinas menos importantes do currículo, assim como muitos pensam sobre a disciplina de educação artística. Como professora formada e atuante na área, gostaria de, neste artigo, relatar um pouco do que estudei e vivencio na educação física, mostrando um pouquinho do seu histórico no Brasil, além da sua importância na formação humana e as mudanças positivas que vêm ocorrendo no seu conteúdo, na forma de ensino e seus objetivos.
 
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    Bem, pra começar, devemos saber que a escola que conhecemos hoje é fruto do advento do capitalismo. Parece muito normal irmos à escola para recebermos uma formação necessária para obtermos uma profissão. Esse é o discurso e a justificativa predominante para que tenhamos que freqüentar o ensino regular. Esse é o discurso capitalista que, no final das contas, tem como o objetivo maior nos dar retorno financeiro.
     Não que isto seja errado, não que isto não seja verdade. Mas pensar a educação meramente como um processo para gerar mão-de-obra para o trabalho é reduzir muito o papel da educação na vida do ser humano. Mas é assim que se pensou durante muito tempo (apesar de que até hoje muitos ainda pensam assim).
     E onde entra a educação física aí? Quando ela foi introduzida nas escolas para a população, o objetivo dela era educar os corpos dos trabalhadores para que fossem saudáveis e fortes para exercerem sua função: produzir, render e gerar lucro. Daí ao longo do desenvolvimento da educação física, seus objetivos foram se adequando conforme o contexto social e político da época.
      Meninos e meninas já foram separados durante a educação física. Uma época se deveu ao fato de que havia uma preocupação em formar homens fortes para servir à pátria, e mulheres saudáveis para gerar filhos saudáveis. Então cada um realizaria exercícios compatíveis à sua condição de gênero. Vemos até hoje, infelizmente, muito preconceito quando, por exemplo, uma menina joga futebol ou um menino gosta de dançar. Mas por que então os meninos são mais habilidosos no futebol do que as meninas? Por um acaso as meninas ganham de presente uma bola de futebol desde pequenininhas como acontecem com os meninos? Analise esse e outros contextos e poderá chegar a conclusão de que essas questões são muito mais culturais do que biológicas.
      Outra abordagem que surgiu foi pautada no esporte de rendimento. O ensino da técnica esportiva era privilegiado, as competições, os alunos mais habilidosos se destacavam durante as aulas, e os menos habilidosos (que eram boa parte dos alunos) se sentiam frustrados, ou excluídos, alguns até humilhados pelos demais colegas, e em algumas vezes, até pelo próprio professor. A avaliação do aluno era pautada no seu rendimento físico e técnico.
      Até aí pudemos observar que a educação física  seguia numa concepção que separava o corpo e a mente, que segregava os alunos conforme seu nível de habilidades e conforme seu gênero sexual, que privilegiava quem era mais talentoso e possuía melhor aptidão física. E possuía um forte caráter militar. Era uma educação física muito excludente e muito parecida com um treinamento militar não acham?


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    Daí começaram a surgir movimentos renovadores da educação física, muitos educadores começaram a pensar mais no desenvolvimento humano dos alunos. Começaram a mostrar o quanto o desenvolvimento motor estava intrinsecamente ligado ao desenvolvimento cognitivo. Princípios pautados nas relações sociais de solidariedade e cooperatividade começam a ter mais relevância, pois o indivíduo estando num ambiente estimulante e amigável aprende muito mais.
     Mas ainda havia um impasse: assim como cada disciplina tinha seu conteúdo específico, qual seria então o conteúdo específico da educação física? Porque até então, mesmo com esses movimentos renovadores, a educação física não estava tendo um status de disciplina como todas as outras. Assim: começaram a pensar na educação física como uma aula em que as crianças faziam jogos e brincadeiras para auxiliá-las no aprendizado da matemática. É claro que as crianças aprendem melhor qualquer coisa brincando e que existe uma relação entre o desenvolvimento motor e psíquico, mas não estavam satisfeitos com uma educação física que somente ajudava as outras disciplinas. Queriam encontrar sua legitimidade para ser uma disciplina com seus objetivos e fins próprios.
     Assim, estudos culturais começaram a se fortalecer dentro da educação física, que sempre foi dominada pelas ciências biológicas. Uma nova abordagem trata da educação física como uma área do conhecimento humano que tem como cerne a cultura corporal. Jogos, danças, esportes, lutas, capoeira, ginásticas, entre outros, são temas que devem ser os conteúdos da educação física a serem desenvolvidos desde o ensino infantil até o ensino médio, sempre de acordo com a faixa etária e levando em conta tanto os aspectos do movimento em si, ou seja, os aspectos práticos, como também os conceitos e atitudes. Ou seja, desenvolver um aprendizado que considere todos os aspectos humanos, e que se aprenda sobre as práticas corporais, compreendendo que elas podem fazer parte do nosso lazer, podem ser praticadas como manutenção da saúde, podem se tornar uma profissão, ou também aprender a apreciar, por exemplo, um determinado esporte ou um espetáculo de dança.
    Sendo assim, atualmente existem diversas abordagens pedagógicas que são trabalhadas pelos professores de educação física. Mas de modo geral, vemos que a tendência hoje, são as abordagens humanistas, que consideram os princípios de solidariedade, igualdade, criatividade, sociabilização, valorização dos potenciais de cada um, inclusão, etc. A tendência é procurar revalorizar a educação, sendo ela essencial para o desenvolvimento humano integral, não apenas para que ao final do processo se adquira uma profissão.
      Bem, tentei dar uma boa resumida na história da educação física brasileira, mostrando um pouquinho de como foi e como está sendo. E você, o que vivenciou na sua infância e adolescência? Foi bom ou ruim? Teve como professor um general ou um educador? Tem acompanhado como é a educação física do seu filho? O que ele conta? Pense, e se quiser, compartilhe aqui nos comentários.
Referências bibliográficas

 

SOARES et al., Metodologia do Ensino da Educação Física / Coletivo de Autores. São Paulo: Cortez, 1992.