Não é difícil encontrar uma criança com um paninho ou um brinquedo que ela não larga. Na verdade está cada vez mais comum ver os objetos transicionais {ou objetos de transição}, acho que isso se deve a aceitação dos pais.
Hoje existem as naninhas, que são vendidas em lojas para bebês e crianças, e que nada mais são que objetos transicionais.
Em minha família não houveram casos de crianças com objetos transicionais {pelo menos não me recordo}, mas lembro-me de uma amiga que tinha um paninho {cada criança escolhe um objeto}, e quando sua mãe o lavava, ela ficava esperando embaixo do varal.
Toda vez que ela me contava essa história, me lembra do Linus, o amigo do Charlie Brown {lembra?}.
Outro desenho que me faz lembrar do objeto transicional é a Mônica e seu inseparável coelho Sansão.
A psicóloga Raquel Benazzi, proprietária do Núcleo Corujas, explica que “o objeto transicional é um objeto eleito pela criança e que faz uma mediação entre mãe e filho, mundo interno e mundo externo. Há para com esse objeto um enorme apego, pois ele não é qualquer objeto, ele é carregado de proteção, transmite segurança e conforto à criança e a ajuda em situações em que ela sentese desprotegida, insegura, sozinha e até abandonada. A mãe suficientemente boa deve permitir a existência desse objeto, pois numa determinada fase da vida ele tem uma função importante e auxilia no desenvolvimento psíquico saudável. É normal o aparecimento do objeto transicional quando as mães retornam ao trabalho, quando as crianças vão à escola ou quando elas têm que enfrentas situações difíceis que causem ansiedade.”
Ela frisa que “o mais importante é compreender e trabalhar com a criança a função, o sentido que esse paninho está representando a ele e não atuar no paninho em si. Veja, a questão não está no objeto mas naquilo que este objeto está representando. Na medida em que a criança consegue se fortalecer, enfrentar situações ansiogênicas, colocarse no mundo de forma mais autônoma e com segurança, ela vai se desprendendo do paninho, pois ele vai perdendo sua função. Aquilo que representava uma segurança exterior, estará dentro dele, portanto não tem mais para que carregar o objeto, assim, ele volta a ser apenas um pano em si, não mais carregado de afetos e sentidos. Vale também lembrar que a criança está muito inserida na dinâmica, no contexto e no inconsciente da família, e, por isso, muitas vezes, os pais também devem receber orientação, pois há um medo e/ou dificuldade deles em permitir a criança crescer de forma independente, o que facilita a necessidade desses objetos.”
Alguns pais se preocupam com o uso contínuo desses objetos, e se questionam se deve ou não tirá-lo, e se existe um momento certo para isso acontecer. Raquel explica que “o objeto não é um problema em si, e que na verdade precisamos compreender o que está sendo falho para que a criança não consiga continuar em seu caminho, rumo à independência de forma mais autônoma e com segurança. Nosso trabalho não será no objeto, mas sim na função que ele representa. Dessa maneira, focamos na importância de uma continuidade no cuidado e uma confiança em si, para favorecer o processo de amadurecimento.
Com o tempo é natural que o uso do objeto transicional diminua. Mas não concordamos em tirar da criança o objeto, pois psiquicamente falando, é complicado quando tiramos algo que tem uma função psíquica sem estar oferecendo nada no lugar. O que queremos dizer é que a grande ideia é que a função psíquica que esse objeto tem deva ser trabalhar e desenvolvida na própria criança, ou seja, devemos trabalhar para que aquilo que o objeto oferece a ela possa se internalizado pela criança e esse objeto passe a ter uma morada interna na criança. Quando isso acontece a própria criança vai se desfazendo do objeto, pois ele vai perdendo seu valor. Não achamos que devemos tirar da criança aquilo que ela ainda não tem desenvolvido dentro dela, pois isso seria uma violência, não temos como saber a intensidade que a falta daquele objeto ameça psiquicamente a criança.
O objeto transicional não deve ser tirado da criança, ele deve ir perdendo seu próprio valor e função, e quem dita isso é o próprio dono do objeto, ou seja, a criança. Normalmente a criança irá esgotar o significado desse objeto por si só e o tempo que ele durará vai variar de criança para criança, de mãe para mãe. Em alguns casos, pode haver uma fixação da criança pelo brinquedo e se isso ocorrer o foco não será nunca no objeto em si, mas no simbolismo que ele representa e contém em si.“
E caímos naquela mesma frase, cada criança tem seu tempo, e devemos respeitá-los! Não gerar ansiedade para que ultrapassem determinadas fases, sendo que passarão cedo ou tarde.
Caso queira entrar em contato com a psicóloga que contribuiu com o texto, Raquel Benazzi, e sua sócia Luciana Romano, elas atendem em Jundiaí e São Paulo, o site é www.nucleocorujas.com.br ou através do facebook.