Somatização: quando o corpo reflete o que não é verbalizado

      Não é incomum ouvirmos relatos de pessoas que sentindo fortes dores procuram o médico, fazem uma série de exames para investigar de onde vem o problema e recebem então o diagnóstico: não é nada! Diante da surpresa o paciente, quando mal orientado, volta para casa confuso, sem explicações e com uma grande questão: qual a causa desses sintomas, afinal?
 
      A presença de desconfortos físicos que não são detectados por exames médicos é conhecida como somatização. Esse fenômeno consiste na dificuldade de resolução de conflitos internos, que acabam se manifestando através do corpo por meio de dores de cabeça, de estômago, palpitação, bruxismo, etc, e também por problemas de pele como dermatites, psoríase e vitiligo.
      A somatização é mais comum do que se imagina. Quem nunca sentiu dor de estômago antes de uma entrevista de emprego importante ou dores no peito diante da perda de em ente querido, por exemplo? Sintomas como esses são normais e não é preciso se preocupar, porém, quando essas manifestações se tornam crônicas e começam a trazer prejuízos para o paciente, aí sim podemos falar de um transtorno que deve ser visto e avaliado com atenção por um profissional.
 
     Muitas vezes, com o diagnóstico de “não é nada!” em mãos, as queixas do paciente passam a ser vistas como “chilique” ou “frescura” por aqueles que são próximos a ele, implicando até mesmo na perda de sua credibilidade. É importante esclarecer que a dor relatada é absolutamente real. A pessoa não tem consciência de onde vem o sintoma e os médicos não conseguem identificar a sua origem, mas a dor é tão real quanto uma dor de origem orgânica. 
 
A somatização nas crianças
 
Imagem da Internet
 
      A somatização não é um problema só de adultos. Crianças também podem manifestar sintomas de ordem psicológica. Os pequenos ainda não adquiriram a capacidade total de comunicação verbal e apresentam dificuldades de descrever e sentir suas emoções, por isso é comum, quando algo não está bem, se expressarem (inconscientemente) através do corpo.
Quando se trata de criança, a somatização pode estar relacionada com alguma questão no funcionamento familiar. Fatores como problemas de saúde física e psicológica na família, perda de pessoas importantes, uso de drogas entre outros, podem contribuir para o surgimento de sintomas somáticos na criança.  
 
      Segundo o psiquiatra e psicanalista D. Winnicott, a formação de um vínculo precário entre mãe e bebê nos primeiros meses de vida da criança também podem ser responsáveis pela manifestação de sintomas de ordem psicológica. O autor aponta o vínculo entre mãe e bebê como o fator mais importante para o desenvolvimento saudável da criança e portanto, a “privação afetiva” pode trazer consequências desastrosas para ela.
 
      Ainda há quem acredite que as crianças nada percebem, nada entendem e que não têm motivos para sofrer, portanto quando se queixam, geralmente estão querendo chamar atenção. Essa ideia é errada e perigosa. As crianças estão atentas a tudo o que acontece ao seu redor e absorvem com uma facilidade incrível as palavras e os comportamentos das pessoas que as cercam. Crianças também precisam ser ouvidas e respeitadas. Portanto, estejam atentos ao comportamento dos pequenos, ouçam o que têm a dizer e não ignorem suas queixas. Caso percebam que algo está errado, procurem um médico e se preciso, um psicólogo. Em quadros de somatização, a presença de um psicólogo é fundamental. O acesso e a compreensão do inconsciente infantil e a forma como ele se apresenta, guiará o caminho para o tratamento psicológico mais adequado.
Fontes:
Os bebês e suas mães – D. Winnicott (2006)
Psicossomática na Infância: Uma abordagem psicodinâmica
Associação Brasileira de Psiquiatria.