Vicente (Van Gogh)

      O assunto da vez, aqui em casa, é pensar em quais opções nós temos aqui em Zurique pra entreter nosso piolho, que já está com quase 1 ano e meio e demandando cada vez mais atenção e atividades diferentes. Tem horas que ele pega na mão do papai, pega a bola e vai indo em direção à porta, tipo “Beleza, vamos lá fora bater uma bolinha”… ou me pega pela mão e me leva até o cantinho onde ficam os livros e os brinquedos, escolhe um livro e já vai sentando no colo esperando que eu leia (e releia por 753 vezes, é claro…).
 
      Eu sempre pensei muito sobre a questão creche ou não creche, com que idade etc. e tal… Sempre achava que quanto mais tarde, melhor. Se não precisasse colocar, então, muito melhor! Mas aí eu virei mãe, e hoje vejo que o buraco é bem mais embaixo… Porque eu percebo que eles têm essa constante necessidade de contato, de interação, com adultos e outras crianças, e se têm sorte de ter avós e tios e primos por perto, que ótimo, mas aqui isso se torna bem mais difícil e temos que procurar outros meios de proporcionar esses contatos pro baixinho. Tenho algumas amigas com filhos, e nos encontramos regularmente, mas ainda assim estou achando que a ideia de frequentar uma creche não é tão ruim quanto eu pensava.

      Mas é aí que os problemas começam… porque achar vaga numa creche aqui é tão simples como encontrar uma vaga de estacionamento na frente de uma escola ao meio dia… ou encontrar o bico do Vicente (lembram da minha tese sobre o buraco negro?). E além de difíceis de encontrar, elas são caras. Muito caras! Tipo tão caras que você abre o site da creche, acha tudo lindo, ela é perto da tua casa e a diretora fala português… aí você vê o preço, e uma lágrima escorre no cantinho do olho, e você pensa “sabe que acho que nem precisa ir pra creche, ficar em casa é MUITO MAIS LEGAL!” Além disso, em praticamente todas as creches que vi eles só aceitam a criança a partir de 2 dias inteiros (que podem ser divididos em 4 meio dias), e eu estava pensando mais na possibilidade de 2 meio dias só, acho que já seria mais que suficiente, já que não trabalho, seria mais pelo contato dele com outras crianças e com a língua alemã… E como vamos geralmente 2 vezes por ano pro Brasil e ficamos lá até 2 meses, aquela lagriminha no canto do olho vira um chororô completo quando penso que terei que pagar quase 4 meses sem frequentar a creche, ou diminuir o tempo de estadia na casa das vovós… buáááá
 
     Bem, mas a parte boa depois de todas essas lamentações é que existem outras possibilidades. É nelas que estou me concentrando agora, e é sobre uma delas que vou contar aqui… Porque no verão é fácil, Zurique tem milhares (um pouco menos, ok) de parques pra ir com os filhos, mas e o que vou fazer com ele no inverno, que é mega frio e neva e é frio e não dá pra ficar muito tempo fora e é frio? Bem, existem alguns grupos de mães que se encontram, ficam batendo papo enquanto os filhos brincam (eu frequento um, quinzenalmente, com mamães brasileiras); existem ainda locais que você pode deixar as crianças durante um período, com pessoas que cuidam delas, mas só algumas vezes por semana, e aí você tem tempo livre pra fazer outras coisas. É mais “livre” do que na creche, mas tão (ou mais) caro quanto… E tem uns locais tipo centros comunitários nos bairros que oferecem cursos de musicalização, dança, pintura… mas geralmente são pra crianças a partir de 2 ou 3 anos. Por sorte achei um desses que falava “a partir de um ano e meio”, e como a profe não precisava saber que o Vicente só completará essa idade na semana que vem, arriscamos ir lá hoje pra ver “qualéqueera”… 
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Do not disturb: artista criando (Arquivo pessoal)
      E foi bem legal! Funciona assim: as crianças chegam, os pais anotam os nomes em uma lista e ficam numa sala com papéis e lápis de cor e outros brinquedos, enquanto esperam. Também tem uma caixa com camisetas grandonas pra colocarmos nos artistas mirins, pra evitar que sujem a roupa… aí por ordem de chegada a instrutora chama pra uma outra sala, toda forrada com tapumes de madeira, onde ela prende as folhas na parede e no centro tem um balcão com vários potes de tinta e pincéis. Pronto, não precisa falar mais nada… Parece que explodiu uma bomba de tinta naquela sala, ou que ela foi feita inspirada nas obras do Pollock… é tinta pra todo lado, guerrinha de tinta, tinta no cabelo, no tênis, na cara da mamãe…
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Fotinho meio ruim, mas é pra mostrar ao que eu me refiro quando digo que parece que explodiu uma bomba de tinta dentro da sala (Arquivo pessoal)
     E no meio daquela bagunça tento domar meu pequeno Vincent Van Gogh pra que, seguindo as orientações da instrutora, ele tente respeitar a ideia de “pincel verde na tinta verde, pincel amarelo na tinta amarela”, e assim por diante. Depois de, tipo, 10 minutos, ele deu dois passos pra trás, analisou a obra, soltou um “voilà” e saiu correndo da sala com dois pincéis, um em cada mão. O pai do menino ao lado olhou pra parede e soltou um “Oh, er ist ein richtiger Künstler” (Tipo: Nossa! Ele é um artista mesmo!) e eu, toda boba, saí correndo atrás do ladrãozinho de pincéis. Aí é lavar as mãozinhas, deixar o trabalho secar até a próxima semana (e no meu caso emoldurar e colocar na sala, é claro!).
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Voilà: arte moderna do meu little Vincent (Arquivo pessoal)
      Falar aqui que vivenciar esse tipo de experiência é importantíssimo pra criança, já que desenvolve a criatividade, o reconhecimento das cores, das regrinhas de convivência e tal, é desnecessário, né! Falar que todos que tiverem a oportunidade devem levar seus filhos pra ter contato com atividades que envolvam tinta e outros materiais, mesmo que façam a maior sujeira, é repeteco de propaganda de sabão em pó. Falar que depois de hoje eu tenho certeza que meu filho vai ser um artista plástico? Bah! Mas é claro!!! Que atire o primeiro giz de cera a mamãe aí que não tem guardados aqueles primeiros riscos do pequeno, que ele aponta e jura é que um “brum-brum”, apesar de, pra nós, parecer só um risco?
      Vamos encher o mundo de obras de arte dos nossos pequenos artistas!



2 thoughts on “Vicente (Van Gogh)

  1. Ficou linda mesmo Lilian, o Vicente tem futuro nas artes… Aqui em casa também tenho um quadro do Gabriel na parece, mais já maior… as outras obras estão guardadas, agora as do Daniel ficam expostas diretamente na parede, e sempre tem arte nova! rsss
    Acho que devemo incentivar mesmo a criatividade dos pequenos, é muito importante! Bjs

  2. Que legal!! Ficou show essa obra prima!!! Aqui em casa tem uma parede que moldurei várias telas do meu filho, tem algumas que ele fez com 2 aninhos. Acho importante valorizar esse lado criativo!!

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