O que deixar de lembrança

      Quem nunca se pegou olhando suas fotos de quando era bebê ou brinquedos e roupas que resistiram ao tempo e ficou saudoso, imaginando e relembrando coisas que viveu na infância? Há 31 anos, numa cidadezinha chamada Itaiópolis, no interiorrrr de SC (sotaque puxado mesmo), ainda não havia muitas modernidades, mas meu pai tinha uma máquina fotográfica (também conhecida como “Kudék”) e já fazia registros nossos… não foram muitas fotos, mas é legal revê-las agora e procurar semelhanças com meu pequeno aqui (que, é claro, são mais facilmente encontradas quando olho pras fotos do marido-então-baby). A questão é que fotos eram “o que tinha pra época”… quem era dotado de mais recursos levava o baby ao fotógrafo, que fazia aquele quadro com 5 rostinhos esfumaçados ao redor, uma chorando, outra rindo, outra com cara de birra e assim por diante. E ao lado de uma ou outra roupa (que eram minhas e eu cheguei a usar no Vicente – da época em que os tecidos resistiam ao tempo) as fotos são as únicas lembranças que eu tenho de quando nasci…
 
      Hoje tudo isso mudou e as opções de lembranças ou registros sobre a gravidez e os primeiros meses de vida nos fazem ficar doidas! É tanta coisa linda e criativa que você quer ter mais um filho a cada vez que vê algo legal e pensa “por que não fiz isso na minha gravidez?”. Dias atrás uma amiga postou um texto falando sobre por que é legal criar uma conta de e-mail para o seu filho… e baseado nisso resolvi compartilhar aqui as coisas que fizemos pro Vicente, como uma forma de mostrar um pouco da sua história quando ele tiver curiosidade e eu já estiver senil e a memória não ajudar a lembrar de alguns detalhes.
 
amorzinhodamamãe@gmail.com: Começando pelo que despertou a ideia do post: a criação do e-mail para o Vicente partiu do papai-nerd-ligado-nas-tecnologias, é claro! Um dos motivos foi o de “reservar” no nome dele. Apesar de não ser um nome muito comum, vai que no futuro esse usuário está indisponível?? Papai prevenido tudo sabe, tudo vê, pra evitar que ele tivesse que apelar pra um “eu.vicente.mw2013ch@gmail.com” correu criar a conta pro filhão, que agora com seu nominho devidamente cadastrado, não corre mais esse risco. Brincadeiras à parte, a ideia principal nem foi só essa, mas também ir fazendo um registro dos fatos que foram acontecendo enquanto estávamos esperando a sua chegada e ainda agora, quando ele começou a andar ou quando fez 1 aninho, por exemplo. Imagina só que legal quando ele for maior e tiver acesso a esses e-mails? Eu iria AMAR ter um e-mail ou carta do meu pai hoje, sabendo o que ele sentiu quando soube que minha mãe estava grávida, por exemplo… #nostalgia

 

Meu querido diário: Mas não basta só um e-mail! Se o papai é nerd-ligado-nas-tecnologias, a mamãe é old-school-tia-louca-crocheteira e gosta mesmo é de um caderninho, ali, de ficar com a mão doída por escrever rápido, já que os músculos acabam não acompanhando o pensamento, né? Então logo que eu descobri que estava grávida comecei a escrever uma espécie de diário, relatando as consultas, os primeiros chutes, a escolha do nome… Sempre que acontecia algo legal eu procurava escrever no caderninho… Pensei em fazer isso até o aniversário de 1 ano, mas é algo tão gostoso e agora continuo escrevendo; menos (porque o tempo diminuiu também), mas tento registrar os principais acontecimentos (até acabar o caderninho, pelo menos hehehe)
 
 
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Querido diário…


Extra! Extra! O que aconteceu no dia em que eu nasci, assim, no mundo? Qual era a música que fazia sucesso? Quem era o presidente do Brasil? Tá, hoje em dia é só perguntar pro tio Google que ele vai responder rapidinho, mas um jornalzinho amarelado com todas essas notícias tem seu valor, vai… Por isso, graças a ajuda da vovó e da titia (já que ele nasceu aqui na Suíça e eu queria o jornal lá do Brasil), Vicente terá a opção de ler as notícias sobre os fatos irrelevantes que rolaram no dia 05.03.2013, já que o principal mesmo, a mais importante e bombástica notícia daquele dia, acabou não saindo no jornal 😉

3.630Kg e 50 cm: Outra coisa que fiz foi bordar um quadrinho com o nome completo dele, a data de nascimento, o peso e a altura… Isso é bem comum nos EUA e aqui na Europa, não necessariamente bordado (pode ser uma ilustração, por exemplo). O legal é ter esses dados ali registrados como uma lembrança desse dia inesquecível. Eu deixei tudo bordado antes e só ficou em branco a parte dos “números” que eu ainda não sabia, e bordei isso depois de passado o êxtase dos primeiros dias olhando praquela carinha enrugada. No meu caso coloquei o quadrinho na porta do quarto do pimpolho, mas pode servir também como enfeite pra porta da maternidade (aqui isso não existe, pelo menos no hospital que eu estive não vi em nenhuma porta), você pode deixar sob a responsa de alguém pra terminar tudo logo depois que o baby nascer e levar à maternidade (sempre tem aquelas tias babonas que se sentiriam super felizes com tal responsabilidade).
 
 
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Lembranças de quando eu tinha tempo de bordar…


Desejos para o bebê: Mesmo estando longe da minha família e amigas queridas no Brasil tive o prazer de receber amigas aqui em casa pra um chá de bebê, e nesse dia eu dei a cada uma delas uma folha com várias frases para serem completadas, como por exemplo “Desejo que você goste de…” ou “Espero que você consiga…” (tirei algumas frases da internet, mas se alguém quiser posso passar o arquivo que tenho aqui ainda). No final todas assinaram e colocaram a data. Depois ainda enviei pras avós, tios, tias; eu e o maridex também escrevemos nossos “desejos” (o meu era de melancia… desconsidere). Ou seja, quando crescer ficará ainda mais “palpável” o quanto ele foi querido e esperado. Eu mesma ficava toda mimimi quando lia os desejos… uma coisa mais linda que a outra.

A mamãe que amava caixas: E onde guardar todos esses mimos? Além do jornal e do diário, a pulseirinha da maternindade, os cartões que recebemos com desejos de felicidades e dando as boas vindas ao Vicente e os “desejos para o bebê” estão todos acomodados dentro de uma caixa (que aliás acabou ficando pequena, tenho que providenciar outra). É o mesmo esquema daquela caixa que ainda tenho lá na casa da mãe com as cartas que eu trocava com pessoas do Brasil todo na época (boa) “pré-internet” onde existia a “amizade norte a sul”, com endereços nas revistas que eu comprava; a mesma, que depois passou a ser a caixa com tickets de viagem, entradas de museus, chaveirinhos, mapas e fotos de cidades visitadas. E que depois passou a acomodar os desenhos e cartinhas enviados pelo afilhado e sobrinhos pra matar a Dinda de saudades.  As caixas, com coisas que você não consegue, não quer (e não deve) se desfazer. E que você dá uma “bizoiada”, de tempos em tempos, pra ver como chegou até aqui e dar forças pra seguir em frente.

      Porque o que importa mesmo é o que sentimos no momento em que vivenciamos tais experiências, aquilo que ficou gravado na nossa memória – eu concordo! -, mas certos mimos e lembrancinhas ajudam a resgatar sensações e a revivê-las sempre que abrimos a tal caixa e vemos o que tem lá dentro. E espero estar bem pertinho do Vicente quando ele abrir a sua caixa…

PS: E agora você, mãe de dois, ou três, ou mais, deve estar rindo cinicamente e pensando “sabe de nada, inocente!”, você acha que vai ter tempo de fazer tudo isso quando engravidar novamente? Imagino que não será fácil mesmo e o segundo pode até ser prejudicado pela falta de tempo, mas a vontade é grande, viu! E acho que o esforço e a energia dispensada a todas essas atividades, por mais simples que sejam, valem muito a pena.
 
 

One thought on “O que deixar de lembrança

  1. Que legal, Marília! Essa ideia do registar os fatos que ocorreram com ele, no e-mail, é muito bacana ! Lembro-me, do "Desejos para o bebê! Achei bem interessante! Parabéns, pelo excelente texto!!

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